Determinismo é o que procuramos encontrar
quando estudamos as ciências naturais. As principais leis da Natureza descritas
pelas ciências apresentam um caráter determinista: Todas as teorias científicas
estão fundamentadas em resultados verificados de testes e observações repetidas,
e as suas formulações matemáticas realizam com precisão os grandes triunfos das
previsões científicas.
Ao percebemos o mundo através
dos nossos sentidos, nos parece que existe na Natureza uma inferência
causal lógica nos processos que percebemos como sendo determinísticos.
A epistemologia das ciências
pressupõe o modelo determinista clássico para uma experiência científica: dadas
as mesmas condições iniciais, cada repetição do mesmo experimento trará os
mesmos resultados. As equações matemáticas deterministas têm resultados
deterministas, do tipo fixo. Sabemos calcular o resultado porque uma equação
determinista não tem variáveis aleatórias em seus termos.
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Uma nova compreensão epistemológica
da Natureza é dada pela hipótese de que as leis que governam os elementos da microfísica
(átomos individuais, elétrons, fótons etc.) não podem definir predições sobre o que
acontece a seguir baseadas em causas e efeitos passados; elas unicamente assinalam todas as possibilidades não
determinadas e revelam quais as chances de cada uma ocorrer.
O comportamento indeterminado do átomo não segue
uma rígida causalidade (de A para B para C), e não podemos inferir nada com exatidão
porque estes elos da cadeia de causa-efeito se quebraram. Os resultados no
cálculo da mecânica quântica não são deterministas; se medirmos uma superposição
de estados quânticos obteremos como resultado um ou outro estado, dentro das
probabilidades. No entanto o processo é causal, porque se medirmos um sistema
quântico em sua superposição de estados, a coerência é destruída e o sistema colapsa durante a medição, mas
não antes dela. O efeito da medição acontece depois da sua causa, não é
possível mudar o resultado de um experimento feito ontem.
Apesar do caráter
indeterminístico do átomo, é possível calcular deterministicamente a probabilidade de um evento aleatório
acontecer, valendo-se do formalismo quântico. A matemática das probabilidades
tem equações maleáveis, o resultado não é determinado, mas é equilibrado e
flexível. Se as equações dependessem de variáveis e aleatoriedades
estocásticas, as soluções seriam randômicas e não teriam sentido.
Por outro lado, se podemos ou
não prever ou alcançar exatidão acima do postulado da incerteza quântica, o
fundo desta questão pode ser a natureza da própria realidade física (espaço-tempo
contínuo junto com as interações singulares entre ondas estacionárias).
Se todas as informações no
histórico de uma partícula do passado ao presente não contém informação
suficiente para prever o seu destino futuro, se esta informação não está nos
momentos passados (como nas equações diferenciais clássicas)... onde estará?
Afinal, alguma coisa deve regular o comportamento de uma partícula. Algumas
teorias dizem que não podemos perceber a fonte da informação que controla o
comportamento presente da partícula porque ela vem do futuro. A informação
vinda do futuro poderia preencher as lacunas determinísticas do presente. A
teoria do Caos explica porque pode ser praticamente impossível prever todos os
micro e macro eventos na vida real (mesmo se o determinismo fundamental existir
ou não).
Todos os padrões de
regularidades repetidas que observamos na Natureza são combinações de
componentes fundamentais (não reduzíveis) dispostos em configurações representando
todas estas regularidades. Configurações de números, de palavras, de letras,
até a ordem dos átomos são padrões que reconhecemos como sendo regularidades e que
podem ser reduzidas a um estado compresso, onde seus elementos aleatórios continuam
trazendo significado através de configurações, como em um código de
compressão. A informação pode ser expressa
em números reais compostos de algarismos, ou por binários, combinações de 0 e
1. As informações-palavras são compostas por letras em ordem e podem ser
representadas também por símbolos.
A localidade, como por exemplo, falar
palavras ou fazer uma medição, é localizar qualquer tipo de informação que
antes estava indeterminada, aumentando a quantidade de informação contida no
Universo. Não é possível haver diminuição da quantidade de
informação, visto que a informação não desaparece sem gastar energia. Anterior àquela aferição, a
aleatoriedade pura e estocástica não tem nenhum significado, porque para que
isto aconteça é necessária uma estrutura de pensamento para fazer sentido.
A quantidade de informação no Universo está aumentando desde o
big bang, como consequência de que toda nova informação é criada a cada instante pela natureza
quântica indeterminada; emergindo do aleatório para participar
de uma medição que vai configurar algum padrão. As medições/localizações
quânticas aumentam a quantidade de informação sobre os estados quânticos randômicos da realidade, e a formação de nova informação
depende do fato que o futuro seja verdadeiramente indeterminado, de acordo com
a teoria quântica, onde uma nova informação tem a oportunidade de passar a
existir sem necessariamente ter causalidade no passado, mas com efeitos futuros. A física da
informação diz que uma partícula é localizada na função de onda sempre que uma nova estrutura de informação estável é criada,
a informação que pode ser observada.
Se as leis da natureza microscópica são irredutivelmente
probabilísticas, o determinismo deve ser falso. As probabilidades irreduzíveis
da natureza quântica são a base para cada chance objetiva genuína obtida no nosso
mundo.
Talvez seja possível um dia chegar a uma teoria sub quântica
que resgate o status ontológico determinista do que medimos. Isto se o realismo
fundamental for verdadeiro, isto é, se os objetos quânticos detêm propriedades bem
definidas e valores reais fixos mesmo quando estes não são medidos. Precisaríamos
de uma teoria “Quantum Plus-Ultra” para uma descrição completa dos muitos estados
quânticos possíveis de um sistema, que atualmente só são conhecidos
através de declarações epistemológicas probabilísticas.
Hoje, a teoria de probabilidades é a teoria que melhor
descreve ondas. Se removermos a incerteza das probabilidades, o que obtemos é
um modelo para partículas localizadas.
Livre arbítrio
O modelo determinista da
mecânica clássica (que pode prever resultados e eventos na macro física com um
mecanismo de exatidão) e o modelo probabilístico indeterminado da mecânica
quântica (que descreve átomos de comportamento inexato), ambos existem correlacionados
ao mesmo tempo nos objetos grandes (que são) compostos de numerosos átomos. O
conjunto dos estados quânticos puros e mistos de todos os átomos de um sistema
grande extrapola o limite dos efeitos quânticos quando o determinismo clássico começa
a ser evidente. Na natureza encontramos
ambos os modelos juntos: algumas coisas são determinadas, outras não.
Um modelo unicamente
determinista para os seres humanos não produziria ocasião para a criatividade ou
a moralidade, enquanto que um modelo totalmente indeterminista não contém
nenhum significado, a aleatoriedade randômica não é suficiente para explicar a
existência do livre arbítrio.
Por que nós pensamos que temos escolha comportamental? Uma resposta a esta pergunta é que a
nossa sensação de ter escolha comportamental foi cuidadosamente selecionado pela
evolução. Uma sensação humana bem desenvolvida de ter livre arbítrio e de ser capaz
de selecionar entre as possíveis condutas possui um alto valor para a
sobrevivência. As pessoas que, por alguma razão, perderam a sensação de que elas podem planejar as suas alternativas para executar a sua escolha entre os possíveis comportamentos tendem a
se tornarem fatalistas e param de lutar pela sobrevivência. A crença nestas
decisões de livre-arbítrio é uma condição necessária para se ter livre arbítrio.
Quando planejamos o futuro e pensamos nas ações possíveis a serem tomadas, a evolução
nos faz sentir que todo o nosso esforço de planejamento compensa, e que nós controlamos
o que fazemos. Se os esforços de nossos cérebros para
modelar a realidade, prever o futuro e assim tornar possíveis os bons
resultados forem impedidos de atuar sobre a própria vontade, o
fatalismo e outros comportamentos autodestrutivos predominam.
Os pensamentos são livres e
às vezes parecem vir à cabeça de algum lugar não explicado e a partir de uma
inspiração (palavra que significa entrou
um espírito), enquanto que as nossas ações parecem originar-se de
nossa própria iniciativa. Pensamentos e
ações são capazes de produzir opções indeterminadas e por isso o livre arbítrio
não é causal, uma ação livre pode não ter uma causa. A analogia entre um átomo ter
livre arbítrio para escolher um dos saltos quânticos possíveis, e o livre
arbítrio de uma pessoa decidir entre comportamentos alternativos é
demasiadamente remota. Para ambas as situações, ou os resultados não são
predeterminados, ou então não podemos contabilizar de antemão todos os fatores que
influenciam o resultado. Uma decisão é um fato no mundo físico que tem
consequências futuras sem necessariamente estar causalmente conectada ao passado.
A filosofia deve discutir
exaustivamente temas como o determinismo, causalidade e o livre arbítrio, enquanto
que os cientistas devem trabalhar para provar que algumas destas respostas
filosóficas não procedem. Uma vez que uma resposta filosófica errada é desmontada
e destruída pela ciência, ela já não tem mais significância, este problema
desaparece. Isto acontece porque a filosofia nos auxilia a entender exatamente
o que uma teoria científica significa, e quais são as filosofias que esta
teoria destrói.
Hipóteses e filosofias são muitas vezes nebulosas e um pouco
absurdas, mas é a Ciência que vai em frente para resolver tudo isso.
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